Entre tensão e compromisso, a COP30 Belém reforça urgência da adaptação e da justiça climática

Crédio: Joel González

Enquanto a Amazônia se torna palco das negociações globais sobre o clima, a COP30 expõe o desafio de equilibrar diálogo, inclusão e ação concreta diante da crise ambiental que já atinge milhões de pessoas.

Por Redação

A 30ª Conferência das Partes (COP30), que ocorre em Belém, no coração da Amazônia, viveu entre os dias 11 e 12 de novembro de 2025 dois momentos contrastantes: o aprofundamento dos debates sobre adaptação e justiça climática e, em seguida, uma manifestação indígena que expôs tensões sobre representatividade e diálogo no evento.

No dia 11 de novembro, o segundo dia da conferência foi marcado por discussões centrais sobre infraestrutura sustentável, gestão da água e dos resíduos, bioeconomia e inovação tecnológica. O tema da adaptação climática ganhou força, com especialistas e lideranças internacionais defendendo que adaptar-se é tão urgente quanto reduzir as emissões de carbono.

Segundo o Global Center on Adaptation, apenas 17% dos recursos destinados à adaptação chegam de fato às comunidades locais, e o déficit de financiamento para países em desenvolvimento pode ultrapassar US$ 350 bilhões por ano. Essa lacuna financeira foi apontada como um dos maiores desafios para que nações mais vulneráveis possam resistir aos impactos das secas prolongadas, enchentes devastadoras, queimadas e deslocamentos forçados, que já são realidade em várias regiões do planeta.

Os bancos de desenvolvimento informaram que, em 2024, foram mobilizados cerca de US$ 137 bilhões em financiamento climático, sendo US$ 85 bilhões destinados a países de média e baixa renda, valor ainda insuficiente diante da escala dos problemas.

Outro ponto de destaque foi a reafirmação do limite de 1,5 °C de aquecimento global como uma “linha de vida” para povos insulares e comunidades vulneráveis. Delegações do Sul Global reforçaram a cobrança por responsabilidade histórica das nações mais ricas e por solidariedade financeira, para que a transição ecológica seja justa e inclusiva.

Durante os painéis, o discurso ético e espiritual também teve espaço. Muitos participantes recordaram o apelo do Papa Francisco na encíclica Laudato Si’: “não há duas crises separadas, uma ambiental e outra social, mas uma única e complexa crise socioambiental”. As falas ecoaram em Belém como um lembrete de que cuidar da criação é um dever moral e espiritual, e que a adaptação climática deve colocar as pessoas, especialmente as mais pobres e marginalizadas, no centro das decisões.

Entretanto, ao cair da noite do mesmo dia 11 de novembro, o clima de diálogo deu lugar à tensão. Um grupo de manifestantes indígenas tentou acessar a área principal da conferência, sendo retido pela equipe de segurança..

O episódio, ocorrido na noite de terça-feira (11/11), levou à suspensão temporária das atividades da COP30. Segundo informações da Reuters, as negociações foram retomadas na manhã seguinte (12/11), após pequenos reparos no local e um reforço nas medidas de segurança.

Representantes indígenas e membros da organização do evento emitiram notas pedindo diálogo e respeito mútuo, reforçando que os povos originários são protagonistas na defesa da Amazônia e fundamentais para o enfrentamento da crise climática.

Mesmo com o incidente, o dia 12 de novembro seguiu com a programação oficial, voltando o foco para o avanço das negociações multilaterais e a busca de consensos sobre mecanismos de financiamento e inovação tecnológica voltados à transição ecológica.

Os dois dias deixaram claro que a COP30 é mais do que um espaço de debates técnicos: é também um espelho das tensões sociais, éticas e culturais que atravessam a crise climática. Belém, nesse cenário, se tornou símbolo de um chamado urgente à adaptação, à justiça climática e à escuta dos povos da floresta.

Fontes: Reuters, The Guardian, Le Monde, Global Center on Adaptation, COP30.br.

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