Memória, Esperança e Presença Consoladora há 60 anos

09 de setembro de 2025

Fundada em 1965, a Missão Catrimani representa um modelo de presença respeitosa entre os povos indígenas. Foto: Missão Catrimani

 

Missionários da Consolata comemoram 60 anos junto ao povo Yanomami, na Missão Catrimani, em Roraima.

Por Redação

Entre os dias 25 e 27 de agosto de 2025, os Missionários da Consolata que trabalham na Missão Catrimani, localizada no coração da floresta amazônica, no estado de Roraima, viveram um momento histórico: a celebração dos 60 anos de presença junto ao povo Yanomami.
Mais de 180 Yanomami, de diversas comunidades, se uniram aos missionários, lideranças indígenas e convidados para celebrar seis décadas de convivência, amizade e luta por vida e dignidade. Entre os presentes, destacaram-se o Irmão Carlo Zacquini, que chegou à missão em 1968 e dedicou sua vida ao povo Yanomami, e o líder Davi Kopenawa, presidente da Hutukara, reconhecido internacionalmente como voz profética em defesa de seu povo e da floresta.

Memória e Caminho da Missão

A comemoração teve início com uma celebração eucarística, recordando os missionários e missionárias que, ao longo das seis décadas, doaram suas vidas na Missão. O evento foi mais do que uma festa: tornou-se um espaço de reflexão, memória e partilha de experiências entre missionários e indígenas Yanomami, revivendo juntos os passos dessa caminhada de fé e solidariedade.

Com o tema “A Consequência da Presença dos Missionários da Consolata junto ao Povo Yanomami”, o Irmão Carlo Zacquini apresentou uma linha do tempo da Missão. Recordou a chegada dos primeiros missionários, Giovanni Calleri e Bindo Meldolesi, a construção das primeiras estruturas, a abertura da pista de pouso e, sobretudo, as lutas travadas: contra as epidemias, pela saúde, pela educação e pela demarcação da Terra Indígena Yanomami, que ocorreu em 1992.

Irmão Carlo Zacquini apresenta uma cronologia da história da Missão Catrimani

Davi Kopenawa

Na sua intervenção, Davi Kopenawa narrou sua trajetória, desde o medo inicial da chegada dos brancos até sua formação como liderança reconhecida. Em sua memória, vieram episódios marcantes, como a invasão dos garimpeiros e a construção da estrada Perimetral Norte, a dor das epidemias — especialmente o sarampo —, a primeira escola e o aprendizado da língua portuguesa, sua atuação na Funai e a caminhada até se tornar porta-voz do povo Yanomami no Brasil e no mundo.

Davi refletiu ainda sobre a presença missionária e o papel da Igreja, lembrando que, no passado, os mais velhos não conheciam remédios ou alimentos trazidos de fora, e viam a doença como algo estranho. Suas palavras abriram horizontes para pensar os desafios atuais, como a dependência de benefícios governamentais e a necessidade de fortalecer a autonomia das comunidades.

Davi Kopenawa, presidente da Associação Hutukara Yanomami (HAY).

Jovens e anciãos

Os jovens do projeto de conscientização cultural Hekura puderam dialogar diretamente com Davi, levantando questões sobre o garimpo, a estrada Perimetral, a educação, o livro A Queda do Céu, o papel das associações Yanomami. Foi um momento de aprendizado mútuo, onde perguntas instigantes revelaram a sede de conhecimento e a responsabilidade das novas gerações.

Já os anciãos, que eram crianças na chegada dos missionários, trouxeram depoimentos emocionados. Muitos agradeceram pelo cuidado recebido nos tempos difíceis das doenças, reconhecendo que sua sobrevivência se deve, em parte, ao apoio dos missionários.

Diálogo de Gerações, Esperança de Futuro

A celebração dos 60 anos da Missão Catrimani foi marcada por um encontro intergeracional, no qual anciãos, jovens e lideranças puderam dialogar, trocar experiências e lançar um olhar para o futuro. Mais do que um aniversário, foi a renovação de uma aliança de amizade e esperança, onde a presença missionária é vivida como consolação, cuidado e compromisso com a vida.

Fonte: Missionários e Missionárias da Consolata na Missão Catrimani.

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