Farol de Esperança I
Globalização - Migração: Tudo está Interconectado
Por Juan Carlos Greco
O Instituto Missões Consolata (IMC) mantém uma relação muito ativa e comprometida com os migrantes, especialmente nas Américas. Sua abordagem se baseia no carisma da "consolação", que se coloca, entre outros serviços, para acolher, proteger, promover e integrar pessoas deslocadas, refugiadas e migrantes. Na Assembleia para as Américas (Bogotá, março de 2018) abordou-se a migração em geral. O contexto sociopolítico, cultural e eclesial destacou alguns desafios e oportunidades para a desejada revitalização e reestruturação da nossa presença e opções missionárias. Diante da dramática situação na Venezuela, o Instituto esteve aberto à opção de formar uma Equipe Missionária Itinerante com pessoal do continente para acompanhar migrantes e refugiados em Roraima. Para compreender (e, com sorte, abraçar) essa opção, embarcaremos juntos em uma "jornada" que começa com o Fundador, São José Allamano, e, em futuros "encontros" com os ensinamentos de Francisco, que tanto nos influenciou. Isso nos ajudará a compreender tanto parte da migração hoje em Roraima, como também em todo o mundo.
A Igreja e seu compromisso social-missionário
Desde seus primórdios, a Igreja tem sido um farol de esperança para milhões de pessoas em todo o mundo. No entanto, o cenário religioso mudou significativamente nas últimas décadas, e a Igreja hoje enfrenta novos desafios e oportunidades. A globalização e a migração criaram um ambiente interconectado, onde as culturas se misturam e as pessoas se deslocam de um lugar para outro. Isso apresenta desafios para uma Igreja que deseja ser cada vez mais missionária, pois precisa encontrar maneiras de conectar pessoas em diferentes contextos.
Vocês sabem que a Igreja não se limita à esfera espiritual, mas também está envolvida na vida social. Os cristãos, missionários por essência, são chamados a servir os outros, a trabalhar pela justiça e pela paz e a lutar contra a pobreza e a marginalização. A Igreja hoje, consciente dos desafios que a humanidade enfrenta, busca ser uma voz de esperança e um agente de mudança na sociedade.
Mas nem todo "cristão" assume sua responsabilidade, e o ritmo é “desacelerado”. Em 1912, com o apoio de outros líderes de institutos missionários, São José Allamano denunciou a São Pio X a ignorância dos fiéis sobre a missão, devido à insensibilidade generalizada na hierarquia. Com respeito e ousadia, pediu ao Papa que interviesse contra essa situação.
Os séculos passam e, às vezes, a insensibilidade e a ignorância se unem em certos cristãos. Outros, ao contrário, abraçam sua missão como batizados e se sentem enviados a compartilhar a Boa Nova com o seu entorno e a tentar transformá-lo. Essa tarefa envolve um engajamento ativo na vida comunitária, muitas vezes em um ambiente secularizado, enfrentando uma série de desafios, mas também oportunidades únicas de crescer e ter um impacto significativo no entorno.
Allamano e Turim em transformação: crescente migração
Final do século XVIII. Santo Allamano, juntamente com Giacomo Camisassa, eleito vice-reitor, trouxe esplendor e renovação com obras de restauração ao Santuário da Consolata e um despertar espiritual aos habitantes de Turim. Essa obra não foi apenas material, mas também começou a ganhar vida, fortalecendo a vida eclesial e infundindo muitas pessoas, enquanto a cidade que a abrigava passava por mudanças sociais, urbanas, políticas, econômicas e, claro, religiosas.
Durante esse período, Turim perdeu seu papel de capital de uma Itália unificada, uma mudança inevitável. A antiga e gloriosa capital do Reino de Saboia passou por uma transformação drástica em todos os seus aspectos. Um dos principais motivos dessa transformação foi sua transição para uma cidade industrializada, frequentemente caracterizada por revoltas populares em decorrência de mudanças administrativas.
É inegável que, nesse período, Turim passava por um de seus momentos mais difíceis após a unificação da Itália. A montadora FIAT já estava no auge de sua popularidade industrial. Isso aumentou a popularidade de Turim, e muitos migrantes, tanto de dentro quanto de fora das fronteiras da Itália unificada, afluíram à emergente cidade industrial.
Portanto, os migrantes também se tornaram o foco da atenção de Allamano, que podiam ouvir, cuidar e acolher no Santuário ou em outros centros de acolhimento. Pensar na missão para as crianças de Allamano significava superar as barreiras de seu próprio país para ir a áreas de evangelização inicial. Mas, para ele e outros que não puderam fazê-lo, a missão podia ser concebida e vivida a partir de contextos próximos. No seu caso, ele olhava com "afeição" para o mundo da classe trabalhadora, que continha muitos migrantes que ele podia acolher, proteger, promover e integrar na nova Turim que estava surgindo, na Igreja local que estava se renovando.
Globalização e Migração
Poucos anos após a fundação do Instituto Missionários da Consolata, os filhos de Allamano chegaram ao continente americano (sendo o Brasil o primeiro país a nos acolher) como discípulos missionários de vários países, trazendo consigo as nossas próprias histórias e condições. A maioria de nós era "migrante", deixando a nossa terra natal para aprender a ser hóspede na "casa" dos outros.
O mínimo que se espera de um missionário é que procure viver o processo de inserção — a encarnação — com amor. Este encontro sagrado exige uma conversão integral que nos habilite à escuta e ao respeito. Somos continuamente desafiados a superar as práticas colonizadoras da missão para dar espaço aos verdadeiros protagonistas: os povos e as suas culturas. Isso nos encoraja a "mudar a nossa perspetiva para ver e compreender a realidade, e a lê-la com os olhos dos pobres".
A solidariedade com os migrantes não se pode limitar à ajuda imediata e emergencial. Devemos, no entanto, trabalhar juntos para combater as causas da pobreza, caminhando e estando juntos. Os missionários da Consolata são convidados a viver a missão com migrantes e refugiados em fraternidade, com a convicção de que um outro mundo é possível se todos assumirmos a corresponsabilidade pela construção do Reino de Deus nesta terra.
Continuaremos caminhando juntos para tentar compartilhar a realidade e a vida dos povos que acompanhamos (deslocados, migrantes, refugiados e apátridas) com suas características culturais. Em poucas palavras, falarei sobre nossas práticas pastorais e nosso estilo de missão.
Como posso me envolver na Missão com a Igreja de Migrantes e Refugiados?
Você pode se envolver de várias maneiras. Se você gostaria de entrar em contato e ajudar no discernimento, envie suas preocupações para WSP 95 981262352.
*Juan Carlos Greco é missionário da Consolata em Boa Vista - Calungá.