Missão Catrimani – 60 Anos de Presença Missionária
Ao longo de seis décadas, missionários, irmãs, leigos e os próprios Yanomami teceram juntos uma história de amizade, resistência e solidariedade. A Missão continua sendo presença consoladora e esperançosa.
Por Equipe de Comunicação da Missão Catrimani
No ano em que a Igreja celebra o Jubileu da Esperança, recordando os 2025 anos da encarnação de Jesus Cristo, o Instituto Missões Consolata (IMC) celebra 60 anos de presença junto ao povo Yanomami na Missão Catrimani, estado de Roraima.
A história dessa Missão começou em outubro de 1965, quando os padres Bindo Meldolesi e Giovanni Calleri subiram o rio Catrimani para estabelecer uma presença missionária. Eles seguiram o caminho aberto por padres como Riccardo Silvestri, que já havia tido contato anterior com os Yanomami ao longo dos rios Apiaú e Ajarani. Desde então, a Missão Catrimani tornou-se símbolo de amizade, esperança e defesa da vida.

Fundação da Missão (1965-1970)
Em 1965, iniciou-se um período de descoberta mútua entre missionários e Yanomami. Em 1966 foi aberta a pista de pouso e aterrissou o primeiro avião na região. Outros missionários se uniram aos pioneiros: Carlos Zacquini, Giovanni Saffirio, Tullio Martinelli, André Ribeiro e Silvano Sabatini. A convivência foi marcada pela escuta e pelo respeito, e pouco a pouco a Missão se consolidava.
Década de 1970
Na década de 70 do século passado, a realidade da Missão foi profundamente impactada pela abertura da Estrada Perimetral Norte (BR-210), que trouxe doenças devastadoras como sarampo, gripes e tuberculose. Mais de 20 aldeias desapareceram, deixando um rastro de mortes. Os missionários assumiram então o compromisso de salvar vidas. Chegaram as Irmãs da Consolata e missionários do CIMI, além de leigos locais e italianos, que se somaram ao esforço. Com a Irmã Aquilina Fumagalli, o Padre Saffirio e o Irmão Zacquini iniciou-se um trabalho intenso de cuidado à saúde. Em 1975 nasceu a Casa de Apoio à Saúde Indígena (CASAI) em Boa Vista, inicialmente em uma casa alugada, e em 1982 com sede definitiva em Monte Cristo.

Invasões, expulsão e retorno
Na década de 1980, o avanço do garimpo ilegal trouxe grandes ameaças. Em agosto de 1987, a invasão de garimpeiros levou a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) a ordenar a retirada dos missionários e equipes médicas, deixando os Yanomami desassistidos. No entanto, a Constituição de 1988 reconheceu os direitos indígenas e abriu caminho para a retomada da Missão. Em novembro do mesmo ano, os missionários retornaram à Catrimani e iniciaram a reconstrução das estruturas, com um novo espírito de compromisso. Em 1989, nasceu o programa de etnoalfabetização, promovendo a educação dos jovens Yanomami em sua língua e cultura.
Década de 1990
Na década de 90, a Missão ganhou novo impulso. Em 1990, chegaram as primeiras Irmãs Missionárias da Consolata: Auristela Stinghen, Maria da Silva Ferreirano e Clotildes Orso, acolhidas pelo padre Guilherme Damioli. Formou-se assim a equipe missionária da Catrimani. Em 1991, irmã Maria da Silva e Maria Edna de Brito, missionária leiga do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), fundaram a escola Yano Thëã (Casa da Língua), marco da educação indígena. Entre março e maio de 1992, a Terra Indígena Yanomami foi reconhecida e homologada. Nesse mesmo ano, aconteceu a primeira Assembleia Yanomami da Missão, voltada à formação de Agentes Indígenas de Saúde (AIS).

Presença brasileira e educação
No início dos anos 2000, convênios entre UNICEF, Diocese de Roraima, governo e FUNASA ampliaram o atendimento na saúde. Entre 2001 e 2011, o padre Laurindo Lazzaretti, primeiro missionário brasileiro da Consolata na região, assumiu a missão, muitas vezes sozinho, com apoio do padre Rosalino Dall’Agnese. Em 2005, a Secretaria de Educação de Roraima criou as primeiras escolas no território Yanomami, com professores Yanomami formados em programas interculturais promovidos pela Missão e por organizações parceiras.
Aprofundamento cultural e parcerias
De 2011 a 2020, a Missão foi conduzida pelo padre Corrado Dalmonego, que se aprofundou na cultura Yanomami, experiência que resultou em seu doutorado, após 14 anos de convivência. Nesse período, ocorreram momentos importantes, como o Primeiro Encontro Binacional Yanomami e Ye’kwana (2013), novas tentativas de retirada de garimpeiros (2014) e a publicação de estudos sobre contaminação por mercúrio (2016). A Missão consolidava cada vez mais seu papel como ponte entre os Yanomami e a sociedade.

De 2021 a 2025: novas esperanças
A partir de 2021, a Missão passou a ser conduzida pelos padres africanos Bob Francisco Mulega e Filbert Nkanga, acompanhados pelo Irmão Ayres Osmarim. Em novembro de 2021, teve início o Projeto de Conscientização Cultural e Capacitação para Jovens Yanomami, com oficinas de mecânica e informática. Em 2022, a comunicação por radiofonia foi substituída pela internet via satélite. Em outubro de 2023, graças à parceria com a Justiça Itinerante, os Yanomami da missão passaram a ter acesso a documentos de identidade, programas sociais como Bolsa Família, aposentadoria e carteira de trabalho. E em maio de 2025, foram instalados dois poços semiartesianos, garantindo acesso à água potável.
Celebração
A celebração dos 60 anos da Missão Catrimani é um momento de memória, gratidão e esperança. Ao longo dessas décadas, missionários, irmãs, leigos e os próprios Yanomami teceram juntos uma história de amizade, resistência e solidariedade. A Missão continua sendo presença consoladora e esperançosa, fiel ao Evangelho e ao compromisso de caminhar lado a lado com o povo Yanomami, em defesa da vida e da dignidade.