Carlo Acutis: um santo com tênis nos pés e o céu no coração
A canonização de Carlo Acutis é um sinal que a Igreja envia ao coração inquieto do nosso tempo.
Por Mauricio Guevara
Carlo Acutis não foi um jovem diferente porque fez coisas extraordinárias. Foi diferente porque se deixou habitar por Deus no ordinário da vida. Com apenas 15 anos, descobriu na Eucaristia a sua rodovia para ganhar o céu e foi em torno ao Pão Consagrado que gravitou toda a sua vida.
A sua canonização, mais do que um gesto litúrgico ou jurídico, é um sinal que a Igreja envia ao coração inquieto do nosso tempo. É como se em voz baixa, mas firme, dissesse a todos e especialmente aos jovens: a santidade não está fora do seu alcance. Carlo não foi perfeito, mas foi inteiro. Não foi célebre, mas foi luminoso. Não escapou do mundo, mas soube habitá-lo com um olhar profundo sobre o cotidiano da fé. Num tempo em que muitos jovens sentem que a fé é um território de sombras, Carlo aparece como um GPS de última geração: ele mostra que a santidade não é sinônimo de perfeição inatingível, mas presença real da graça. Ele jogava videogame, tinha amigos, sofria bullying, ria, estudava, chorava. Mas, acima de tudo, amava a Eucaristia como se dela dependesse o fôlego do seu viver. E de fato dependia.
A canonização de Carlo é um gesto profético da Igreja que diz aos jovens: a santidade é possível "aqui e agora". Não é coisa de monges distantes ou de séculos passados. A santidade pode ter rosto adolescente, usar jeans, amar tecnologia, gostar de futebol e, ainda assim, ser profundamente amigo de Deus. Carlo usou a internet como um altar e o coração como lugar de missão. Criou um site sobre milagres eucarísticos, evangelizou com cliques e orações, e mostrou que ser digital não impede de ser espiritual. O santo jovem dizia: “Todos nascem como originais, mas muitos morrem como cópias”.
A vida de Acutis foi um protesto contra a mediocridade, um grito manso pela autenticidade. No fundo, ele não fez nada “extraordinário”. Apenas acreditou que Deus era o maior amigo que alguém poderia ter e viveu como tal. A sua canonização é uma luz acesa no meio da geração das incertezas. E é também uma provocação: e se a sua vida também puder ser santa, mesmo assim como está agora?
*Mauricio Guevara, imc, é reitor do Seminário Teológico João Batista Bísio, São Paulo, SP.